natalie barneyrenée vivien
Natalie Clifford Barney no século XX, com 20 anos deixou a América e instalou-se em Paris. A cidade de Washington era provinciana demais para abrigar a jovem herdeira que pregava o amor livre, Paris, a cidade-luz, parecia ser o paraíso. Natalie talvez tenha sido a primeira mulher a alardear publicamente sua homossexualidade e o fazia com muito orgulho. Ela e a amante a poeta Renée Vivien aproveitaram a onda migratória de artistas americanos para a Europa e estabeleceram moradia em Paris onde sonhavam recriar uma ‘Lesbos’ em pleno começo do século XX.
Embora fosse escritora, Natalie era mais conhecida por suas atitudes nada convencionais e pelas festas que dava toda a sexta-feira à tarde, no jardim de sua casa, cujos salões eram frequentados pela nata literária da época. As festas eram exclusivamente para mulheres, onde eram celebrados no ‘Templo da Amizade’, em estilo grego, pequenos rituais sáficos. Sarah Bernhardt e Isadora Duncan apareciam por lá para uma encenação, Greta Garbo deu as caras uma vez, levada por sua amante Mercedes de Acosta e a escritora francesa Collete adorava ir às festas sem seu marido. Certa vez, Collete escreveu: ‘Natalie querida, meu marido beija suas mãos e eu, o resto!’.
Natalie era muito sedutora e aos 50 anos exercia um enorme fascínio sobre as outras mulheres. Mesmo a sisuda Gertrude Stein deixou-se cativar pela sua rival anfitriã, se por um lado as festas de Gertrude eram modernistas, os de Natalie eram um festival ‘Belle Épóque’. Como franca adepta do amor livre, Natalie colecionou amantes durante toda a sua vida, todas mulheres: Renée Vivién, Djuna Barnes, Dolly Wilde (sobrinha de Oscar Wilde) e Collete. Mas foi com a pintora Romaine Brooks que teve o caso mais duradouro. Ficaram juntas por 50 anos. Natalie escreveu alguns poucos livros, a maioria em francês. Uma vez escreveu o que deveria ser seu epitáfio: ‘Ela era amiga dos homens e amante das mulheres, o que para pessoas cheias de ardor e energia, é melhor que o contrário’.
romaine brooks
Romaine Brooks foi amante de mulheres, adorava vestir-se com roupas masculinas, percorria as ruas de Paris e Londres com sua Bugatti conversível e adorava pintar retratos de suas amigas travestidas. Só pintava em tons de cinza, Brooks odiava cores fortes. Até mesmo seu apartamento era decorado apenas com as cores branco, preto e cinza e suas roupas e pinturas obedeciam à mesma palheta, acrescida de marrom e areia. Esta preferência de Brooks por cores soturnas e neutras talvez se devesse à sua infância extremamente infeliz.
Apesar de ter nascido no seio de uma família americana abastada, a pintora foi vítima de toda a sorte de abusos. O pai alcoólatra abandonou mulher, um filho deficiente mental e duas filhas pequenas, uma delas a recém-nascida Romaine. Ella Godard, sua mãe, era louca. Com o tempo, foi nutrindo uma obsessão doentia pelo filho deficiente, passou a achar que o menino era santo e batizou-o de Henry St Mar e caçoava de Romaine por ela não ser tão inteligente quanto o irmão. Depois, passou a vestir as filhas com roupas que o menino havia usado quando tinha a idade delas, querendo torná-las como ele.
O garoto St Mar, no entanto, amava Romaine, era correspondido e a cumplicidade dos dois despertou o ciúme de Ella, que passou a odiar a filha. Cruel, Ella deixou Romaine passar uns dias na casa da lavadeira, num cortiço nos arredores de Nova York, mas só voltou para pegá-la anos depois. Em casa, Romaine sofria humilhações e tinhas seus desenhos rasgados pela mãe, egoísta e invejosa de seu talento artístico. Adolescente, Brooks foi enviada para um convento na Itália, de onde fugiu logo que completou 18 anos para viver, incógnita, nas ruas de Paris, onde, um pouco antes da virada do século 20, ela finalmente decidiu se dedicar profissionalmente à pintura.
Sem dinheiro, pois havia interrompido a comunicação com a família, passou a fazer uns bicos posando como modelo para aulas de desenho. Assim, ficou íntima de um núcleo de artistas e acabou desenvolvendo a pintura como sua verdadeira vocação. Logo depois, com a morte da mãe, Romaine herdou uma fortuna que lhe permitiu viver apenas para sua arte. Em 1915, Brooks, conheceu o grande amor da sua vida, a escritora Natalie Barney, a lésbica mais famosa da cidade, conhecida como a Safo de Paris. As duas, no entanto, eram muito diferentes, Natalie adorava festas, roupas claras, relacionamentos abertos, era otimista e amava estar cercada por muita gente; Romaine preferia o silêncio, roupas escuras, relacionamentos exclusivos, era pessimista e sofria de misantropia crônica. Mas, talvez por terem se encontrado numa fase madura da vida, as duas com quarenta e poucos quando se apaixonaram, souberam administrar essas diferenças e permaneceram juntas por quase 50 anos.
Uma das táticas usadas por Brooks para conservar em bons termos sua relação com Natalie envolvia respeito mútuo e distância. Sabendo que a amante era uma namoradeira incorrigível, e consciente de sua própria preferência pela solidão, Brooks se afastava de tempos em tempos e deixava Natalie livre para suas outras conquistas amorosas. Quando as paixões de Natalie arrefeciam, Books voltava para tomar seu lugar de direito e Natalie ajudava Brooks a se promover, organizando exposições, negociando os quadros de Romaine com museus e intermediando pedidos de socialites que desejavam ter um retrato pintado por sua namorada. Lésbica e cross-dresser, Brooks pintou vários retratos de mulheres vestidas como homens, o que na época foi bastante ousado. Em seus retratos monocromáticos, Romaine Brooks confundiu propositalmente os limites entre os gêneros masculinos e femininos, redenção de sua infância atormentada
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