Ela sempre esteve com o pé na estrada, uma vida errante sem fim e total ausência de esperança. Foi descrita por poetas e admiradores, como anjo inconsolável, e pelo escritor Thomas Mann, o célebre autor de "Morte em Veneza", que a conheceu muito bem quando amiga de seus transgressores e drogados filhos Erika e Klaus, como anjo devastado. Anais Nin encantou-se com a garota alta, magra e sombria, imaginando ser ela a sua própria alma que a visitava. Ela sempre despertou amores impossíveis.
Annemarie Schwarzenbach, confundida muitas vezes com um rapaz pelo seu aspecto andrógino, nasceu em 1908, em Zurique, Suíça, filha de um proprietário de um império têxtil, foi educada nos melhores internatos para moças ricas. Formada em História, publicou "Amigos de Bernhard", obra elogiada pela crítica e mudou-se para Berlim onde foi acolhida pela elite intelectual. Escritora atormentada e viciada em morfina, íntima dos malditos Mann, suicida em potencial, embora tenha morrido acidentalmente aos 34 anos, de uma queda de bicicleta, após hemorragia cerebral, também foi correspondente de guerra, arqueóloga e fotógrafa. Lésbica transformada em ícone gay, Annemarie mergulhou no lado sombrio da vida em uma existência dolorosa entre fugas, vícios, uma eterna e desesperada busca do amor e uma difícil relação com uma opressora e sufocante mãe.
Seus escritos falam de amores homossexuais. Ainda na Alemanha, antes de fugir do nazismo, escreve a peça histórica "Cromwell". Apaixonada por Erika Mann e, não correspondida, parte para uma viagem de sete meses pela Ásia e termina rompendo definitivamente com a sua família, esta mais preocupada com o julgamento da sociedade e também adepta ao nazismo. Viajou de automóvel, um velho Ford, da Suiça ao Afganistão, passando pela Itália, Iugoslávia, Bulgária, Turquia e Irã, correndo do terror hitleriano na companhia da amante jornalista e escritora Ella Maillart (foto) que mais tarde, escreveu sobre Annemarie: ‘escolheu uma vida complicada, a estrada cruel do inferno. Acreditava no sofrimento. O venerava como a fonte de toda grandeza’. Ella Maillart acabou cansada de sua desequilibrada acompanhante e amante, do demônio que a corroía, de suas crises, de suas recaídas na droga, de seu excesso de sensibilidade. Porém nunca deixou de se sentir atraída pelo seu encanto e sua profunda vulnerabilidade.
No seu livro "Morte na Pérsia" (Tod in Persien), Annemarie fala de suas várias passagens no Irã, uma terra desértica onde projetou o seu sofrimento, um país que oferecia um território de tentações para seus vícios, suas crises mentais e seus amores homossexuais. Os cachimbos de haxixe e a vodka tomada furiosamente, a necessidade de comprometer-se na luta contra o nazismo, a complexa relação amorosa com uma garota de Teerã, filha do embaixador turco, e o seu passageiro casamento de conveniência com um diplomata francês para dissimular seus romances com outras mulheres. A velha Pérsia, era o lugar onde exorcizava sua angústia, seus medos e suas obsessões. Uma existência que ela mesma resumiu num grito pavoroso: "Deixem-me sofrer!".
Depois de muitos anos de esquecimento, e graças aos esforços de Ella Maillart, a importância de Annemarie Schwarzenbach foi resgatada nos anos 80 com a publicação suíça de suas obras.
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