Famosas, aclamadas, deusas para seus admiradores, Isadora Duncan, a criadora do ballet moderno e Eleonora Duse, considerada em sua época a maior atriz de todos os tempos, foram mais do que grandes amigas, mesmo com uma grande diferença de idade (dezenove anos). Suas vidas corriam paralelas e tinham grandes semelhanças. Elas se cruzaram no ponto exato em que a amizade transformou-se em amor, depois de Duncan ter perdido seus filhos de forma trágica, nas semanas de luto passadas em Viareggio, casa de praia de Duse.
Eleonora Duse (1858-1924) nasceu em Vigevano, próximo a Veneza e já aos quatro anos, atuava nos palcos interpretando Cosetta na peça ‘Os Miseráveis’, de Victor Hugo. Aos 15, com seu talento reconhecido em toda a Itália, interpretou Julieta na famosa arena de Verona. Sua performance cênica era baseada no gestual reduzido ao mínimo e no poder da voz gentilmente sussurrada. O repertório de Duse ia de Shakeaspeare às heroínas do drama francês, e foi a primeira atriz italiana a interpretar Ibsen, foi a primeira atriz italiana a interpretar Ibsen.
Na vida amorosa Eleonora Duse viveu relacionamentos apaixonantes, mas infelizes. Em Nápoles conhece o jornalista Mattino Cafiero que a abandonou grávida de um bebê que teve morte prematura. Em 1881, casou-se com o também ator Theobaldo Checchi, com quem teve uma filha. Em 1885, encontrou e se tornou amante, financiadora, promotora e intérprete das peças de Gabrielle D’Annunzio, poeta e dramaturgo, durante o tormentoso tempo em que estiveram juntos. Para viver o idílio com mais tranqüilidade, Eleonora alugou uma magnífica villa em Florença, seu primeiro lar verdadeiro.
Em 1900, o escândalo causado pelas indiscretas e inescrupulosas revelações sobre os amores do casal e provocou o fim do relacionamento. Mais tarde, D’Annunzio, voluntário na 1ª Guerra Mundial se tornou herói nacional e apoiou o regime de extrema direita de Benito Mussolini. No período em que parou de atuar (1909-1921), Duse se envolveu com Lina Poletti que, por sua vez, tinha rompido um relacionamento com a escritora Sibila Aleramo. Também se relacionou com a atriz Emma Grammatica, com a cantora Yvette Guilbert e com a dançarina Isadora Duncan.
Tuberculosa, conviveu com os problemas da doença, como a ‘Dama das Camélias’, um de seus grandes papéis. Eleonora Duse morreu em Pittsburgh, Pensilvânia em 21 de abril 1924, durante uma triunfante turnê. A companheira, na época, era a poeta americana Amy Lowell, que ela havia acabado de conhecer.
Isadora Duncan (1878-1927) nasceu em San Francisco e teve uma infância atípica para a época. Abandonados pelo pai muito cedo ela, a irmã e os dois irmãos freqüentavam aulas de literatura, poesia, música e artes plásticas. A partir dos 4 anos, freqüentou um curso de ballet clássico e aos 11 dava aulas de sua técnica muito pessoal. Isadora achava que as técnicas clássicas e as sapatilhas de ponta deformavam o corpo feminino. Seu estilo de dançar era baseado na improvisação de movimentos, na natureza e nas manifestações culturais da Grécia Antiga. Duncan trabalhou em Chicago no final do século 19, contratada por Augustin Daly, o maior empresário teatral da época.
Excursionando com a companhia, chegou a Londres onde dançava em reuniões organizadas por damas da alta sociedade que a levaram para Paris onde, finalmente, encontrou a aceitação que tanto buscava para seu talento. A chegada de Isadora à França foi pontuada por apresentações em locais públicos e em sessões especiais para seus ricos e ilustres admiradores, entre eles o escultor Auguste Rodin. Seu espírito livre não acreditava em casamentos formais. Mas, ao encontrar o produtor teatral Gordon Graig, viveu durante algum tempo uma relação tumultuada, de onde nasceu a menina Deidre. Com Paris Singer, um dos herdeiros do império das máquinas de costura, teve Patrick.
Em 1913, uma tragédia alterou profundamente sua forma de ver a vida. Deidre e Patrick morreram afogados num acidente automobilístico no Rio Sena, juntamente com a sua babá irlandesa. Um ano depois deu à luz um terceiro bebê do sexo masculino, que ela julgava ser a reencarnação de Patrick, e que morreu horas após o parto. Após perder sucessivamente os três filhos, quase oito anos de afastamento completo se passaram. Isadora reapareceu para o público em 1922, casada com o poeta gay russo Serguei Yesenin, 17 anos mais novo. Mudou-se para a Rússia por convite do Comissariado da Educação que lhe destinou uma casa de dois andares, onde cerca de mil crianças estavam matriculadas. Em 1921, fundou a Escola Soviética de Dança, em Moscou. Desde o início da carreira, Isadora sonhava investir seus ganhos na educação de jovens, aperfeiçoando novos talentos.
Abalada com a sucessão de perdas afetivas que sempre se seguiam aos ganhos materiais e artísticos, Duncan começou a beber descontroladamente e a ter vida sexual bastante movimentada. Casos com Mercedes Acosta e Eleonora Duse, entre outras, colaboraram para a reputação de Isadora tornar-se ainda mais extravagante, imprevisível e escandalosa para os parâmetros da época.
Aclamada como o espírito vivo da dança, discriminada pela postura transgressora, feminista, revolucionária, inspiradora de poetas e artistas é até hoje um ícone de sua época. Os últimos anos de Isadora Duncan foram vividos em Nice, na Riviera Francesa. Em 27 de maio de 1927, quando atravessava mais uma fase de decadência, morreu da mesma forma espetacular como viveu, estrangulada pelo écharpe que se prendeu às rodas do carro esporte sem capota em que viajava. Desde a morte de Deidre e Patrick se recusava a entrar em carros fechados.
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