Susan Sontag e Annie Leibovitz devotaram suas vidas à paixão pelos livros, paixão pela beleza, além da paixão de uma pela outra. Mantiveram uma relação intensa, uma voz para um olhar. As duas falaram em nome das mulheres. Discretamente, sem alarde.
Annie Leibovitz, uma das expoentes da cultura pop americana na segunda metade do século passado, uma fotógrafa perfeccionista, cada fotografia é preparada detalhadamente por uma equipa de cerca de 50 pessoas. Uma hora do seu trabalho custa milhares de dólares. É dela, por exemplo, a célebre fotografia do beatle John Lennon, nu, enroscado em Yoko Ono, momentos antes de ser assassinado por Mark Chapman em 8 de dezembro de 1980. A fotografia que foi capa da ‘Rolling Stone’ e ficou na história como uma das imagens mais marcantes de sempre. A fotografia até nem correu como planejado. Yoko Ono recusou-se a tirar a roupa como Annie Leibovitz lhe tinha pedido. A fotógrafa ficou um pouco desiludida, mesmo assim continuou a sessão. John Lennon aceitou a indicação e despiu-se. Yoko ficou vestida e o ex-Beatle deitou-se a seu lado nu, em posição fetal. O ensaio de Demi Moore grávida publicado na revista ‘Vanity Fair’ também é de sua autoria. Essas imagens, a de Lennon e de Demi Moore, foram eleitas pela ‘Sociedade Americana de Editores de Revista’ como as duas melhores imagens de revista nos últimos 40 anos. Esses e outros momentos, de uma espantosa e chocante beleza, captados com um olhar ímpar estão impressos no recém-lançado livro ‘A Photographer’s Life’ (1990 – 2005). Um conjunto de obras de quem conta toda uma vida num clique. Mais do que revelar a intimidade de grandes personalidades, a edição mostra a vida pessoal de Annie Leibovitz traduzida em fotos de sua família, de sua companheira, a escritora Susan Sontag, e dela mesma. O livro, aliás, é uma homenagem da autora à Susan Sontag que morreu de câncer em 2004. Annie fotografou toda a agonia de Sontag em seus momentos finais consumida pelo câncer.
Escritora, ensaísta e ativista norte-americana e, como ela mesma dizia, 'fanática pela seriedade’, cuja mente voraz e prosa provocante a tornaram uma das mais importantes intelectuais dos últimos 50 anos. De destaque internacional e enorme irreverência, Susan Sontag foi distinguida com numerosos prêmios literários. É autora do ensaio sobre estética homossexual "Notes on Camp" (1964), que lançou definitivamente a sua carreira literária. Filha de um negociante de peles, ela nasceu como Susan Rosenblatt, em 1933, em Nova York, a sua cidade de sempre. A mãe era alcoólatra; o pai morreu quando ela tinha cinco anos. Mais tarde, sua mãe se casou com um oficial do exército, o capitão Nathan Sontag. Susan Sontag lembrava sua infância como "uma grande sentença de prisão". Mas nem só de literatura viveu Sontag. Os seus múltiplos interesses (jornalismo, filosofia, cinema, fotografia) valeram-lhe o destaque como uma das vozes mais incômodas entre os intelectuais do seu país, tendo muitas vezes proferido afirmações polêmicas. Em 1968, é enviada como correspondente para o Vietnã, um conflito que a marcará profundamente e que reforçará a suas convicções pacifistas. Vinte e cinco anos depois volta a outro cenário de guerra, desta vez na Bósnia Herzegovina para alertar o mundo da escalada de horror vivida na Iugoslávia.
Feminista convicta, Sontag foi uma incansável ativista dos direitos humanos. Apesar de já travar a luta contra a doença, não deixou de apresentar o seu protesto a propósito do atentado ao World Trade Center, responsabilizando a atuação das administrações americanas pelo sucedido. Em 2003 insurgiu-se contra a guerra no Iraque, em rota de colisão com o Presidente George W. Bush.
Apesar de ter revelado sua bissexualidade em 1995, Sontag não alardeava (embora não negasse) suas ligações com mulheres. E ela namorou algumas das figuras mais fascinantes da vida cultural americana: por sete anos foi parceira da dramaturga Maria Irene Fornes e namorou a coreógrafa Lucinda Childs. Nos últimos anos de sua vida, viveu intensamente com Annie Leibovitz, com quem dividia um conjugado de luxo em Nova York. Susan, deixou seu recado pouco antes de morrer sobre a força da fotografia em ‘Diante da dor dos outros’. Neste livro Sontag fala do impacto que as imagens da 1ª Guerra Mundial trouxeram para os leitores de jornal no começo do século XX que não conseguiam imaginar o que era o horror nos campos de batalha. A morte ao vivo pela primeira vez era fotografada quase simultaneamente às informações que chegavam ao público.
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