Uma lésbica é a fúria de todas as mulheres condensada até ao ponto de explosão. Ela é a mulher que, muitas vezes numa idade muito jovem, começa a atuar de acordo com a sua necessidade compulsiva de ser um ser humano mais completo e livre que - talvez então mas certamente mais tarde - a sociedade onde vive a deixa ser. Estas necessidades e ações ao longo dos anos, conduzem-na a um conflito doloroso com as pessoas, situações, formas aceitáveis de pensar, de sentir e de comportamento, até se encontrar num estado de guerra permanente com tudo à sua volta e geralmente também com ela própria.
Pode não estar totalmente consciente das implicações políticas do que para ela começou como necessidade pessoal, mas num dado plano não foi capaz de aceitar as limitações e a opressão imposta pelo papel mais básico da sua sociedade - o papel de mulher. O turbilhão que ela sente, tende a induzir uma culpa proporcional ao grau em que ela sente não estar de acordo com as expectativas sociais, e/ou eventualmente conduzí-la ao questionar e à análise do que o resto da sua sociedade mais ou menos aceita. Ela é forçada a desenvolver o seu próprio padrão de vida, muitas vezes vivendo grande parte da sua vida sozinha, aprendendo geralmente mais cedo que as suas irmãs heterossexuais acerca da solidão essencial da vida (que o mito do casamento esconde) e acerca da realidade das ilusões.
Enquanto não conseguir expelir a pesada socialização que implica o ser mulher, nunca conseguirá estar em paz consigo própria. Porque ela se encontra entre a aceitação da visão que a sociedade tem dela - e nesse caso não se aceita a ela própria - e a compreensão do que esta sociedade sexista fez por ela e porque é funcional e necessário fazê-lo. Aquelas que entre nós que meditamos e tiramos conclusões sobre isso, encontramo-nos do outro lado de uma viagem tortuosa através da noite que pode ter durado décadas. A perspectiva que se ganha dessa viagem, a libertação interior do nosso ser, a paz interior, o amor real por nós próprias e por todas as mulheres, é algo a ser compartilhado com todas as mulheres - porque somos todas mulheres.
Ao longo da História muitas mulheres famosas admitiram serem lésbicas. O conceito da orientação sexual modificou-se muito com o tempo. Sem tratar as relações lésbicas abertamente, na metade do século XVIII, a 'amizade romântica' entre mulheres põe-se na moda na literatura inglesa, quanto ao exemplo da relação entre as 'Senhoras de Llangollen', Eleanor Butler e Sarah Ponsonby, ou a amizade romântica de Sarah Scott, Elizabeth Carter e Catherine Talbot, Anna Seward e Honora Sneyd, ou Mary Wollstonecraft e Fanny Blood.
Durante o século XX mulheres famosas não escondiam que eram lésbicas ou bissexuais, como Vita Sackville-West, Marlene Dietrich, Greta Garbo, Marguerite Yourcenar, Janis Joplin, Martina Navratilova, Susan Sontag e Annie Leibowitz, Amelie Mauresmo, etc. Embora esses sejam exemplos de mulheres que tiveram a voz na sociedade do seu tempo, milhões de lésbicas anônimas fizeram das suas vidas um exemplo que nunca saberemos.
'Alguém, creio, se lembrará de nós no futuro.'
(Safo - 640 a.c.)