O casal gay Eduardo (Rodrigo Andrade) e Hugo (Marcos Damigo) da
novela "Insensato Coração", da TV Globo, que terminou em agosto de
2011, entrou para a extensa galeria de gays, lésbicas, bissexuais,
transgêneros, travestis e drag queens que animam as novelas brasileiras
desde meados dos anos 70.
Em 2012 tivemos Crô, o mais recente, vivido pelo ator Marcelo Serrado em "Fina Estampa", de Aguinaldo Silva. E a travesti Ana Girafa, papel de Luís Salem em "Aquele Beijo".
Muitos tiveram finais trágicos, outros ganharam finais felizes, alguns passaram despercebidos e outros geraram polêmica. Assassinos, viciados, efeminados, folclóricos, alegres, fervidos, "normais", românticos, sexuais...
Em 2012 tivemos Crô, o mais recente, vivido pelo ator Marcelo Serrado em "Fina Estampa", de Aguinaldo Silva. E a travesti Ana Girafa, papel de Luís Salem em "Aquele Beijo".
Muitos tiveram finais trágicos, outros ganharam finais felizes, alguns passaram despercebidos e outros geraram polêmica. Assassinos, viciados, efeminados, folclóricos, alegres, fervidos, "normais", românticos, sexuais...
Confira a linha do tempo completa dessa turma que, com
cães ladrando e tudo, sempre conseguiu desfilar sua caravana. E
continuará desfilando - mesmo que haja quem diga que "o público não
aguenta mais gay em novela".
Anos 70
"Assim na Terra Como no Céu" (70, 22h) Ary Fontoura viveu o efeminado costureiro Rodolfo Augusto, o Gugu.
"O
Bofe" (72, 22h) Na bizarra novela de Bráulio Pedroso, o polonês
Ziembinski era Stanislava, uma velha que vivia bêbada de xarope. Foi a
primeira travesti das novelas brasileiras - ou era apenas um homem
interpretando uma velhota?
"O Rebu" (75, 22h) De novo Ziembinski.
Desta vez, ele era o milionário Conrad Mahler, que matou Sílvia (Bete
Mendes) porque esta se envolveu com Cauê (Buza Ferraz), garotão que
Conrad sustentava. Na mesma novela, Roberta (Regina Viana) e Glorinha
(Isabel Ribeiro) terminavam juntas. Obviamente, tudo era sugerido.
"O
Grito" (75, 22h) Rubens de Falco era Agenor, homem maduro que morava
com a mãe. De noite se maquiava e saía de casa trajando um enorme
casaco. Nunca foi revelado o look por baixo da capa.
"O Astro"
(78, 20h) Felipe (Edwin Luisi) e seu amigo cabeleireiro, Henri (José
Luiz Rodi) eram colegas de drogas e transas - novamente, tudo sugerido. A
dupla foi responsável por matar Salomão Hayalla (Dionísio Azevedo).
"Dancin'
Days" (78, 20h) Renato Pedrosa era Everaldo, o bichésimo mordomo de
Yolanda Pratini (Joanna Fomm). Everaldo vivia falando de Greta Garbo, e
dizia que assistia aos filmes dela "de joelhos".
"Marrom Glacé" (79, 19h) Nestor de Montemar era Pierre Lafond, efeminado chef do buffet que dava título à novela.
"Os
Gigantes" (79, 20h) Até hoje ficou indefinido se as personagens Paloma
(Dina Sfat) e Renata (Lídia Brondi) tiveram algum romance escondido - e
censurado - na novela. O autor Lauro César Muniz é o único que pode
decifrar esse mistério, já que Dina morreu em 89 e Lídia saiu de cena.
Anos 80
"Ciranda de Pedra" (81, 18h) Letícia (Mônica Torres) era lésbica, nos rígidos anos 40.
"Brilhante"
(81, 20h) Inácio (Dennis Carvalho) era gay, e sua mãe o obrigava a se
casar com uma mulher. Ele se envolveu com Sérgio (João Paulo Adour), mas
terminou embarcando para Paris com Cláudio (Buza Ferraz), ao som de
"Pompa e Circunstância".
"Um Sonho a Mais" (85, 19h) Um trio de
travestis invadiu essa absurda novela: Anabela (Ney Latorraca),
Florisbela (Marco Nanini) e Clarabela (Antônio Pedro). De repente entrou
em cena Olga Del Volga (a sexóloga interpretada pelo argentino Patrício
Bisso). A censura vetou todas elas. Pedro Ernesto (Carlos Kroeber), que
era apaixonado por Anabela sem saber que esta era travesti, terminou
pensando que tinha assassinado sua amada.
"Roque Santeiro" (85,
20h) João Ligeiro (Maurício Mattar) era um peão sensível, que tinha
Toninho Jiló (João Carlos Barroso) como seu melhor amigo. A paixão de
João por Jiló acabou não sendo desenvolvida.
"Selva de Pedra" (86,
20h) Um romance entre Fernanda (Christiane Torloni) e Cíntia (Beth
Goularth) também foi vetado e não aconteceu.
"Anos Dourados" (86,
22h) Na minissérie, Marina (Bianca Byington) terminou "vivendo em Nova
York há anos, com sua companheira", segundo a narração.
"Roda de
Fogo" (86, 20h) Mário Liberato (Cecil Thiré) tinha uma relação muito
íntima com seu mordomo Jacinto (Cláudio Curi), com direito a massagens
orientais. Ambos foram mortos na escalada de crimes que marcou a novela.
"Sassaricando" (87, 19h) Jorge Lafond viveu Bob Bacall, estrela de um cabaré.
"Vale
Tudo" (88, 20h) O casal Laís (Cristina Prochaska) e Cecília (Lala
Deheizelin) se desfez com a morte da segunda. Mas Laís encontrou um novo
amor: Marília (Bia Seidl). Ainda, o mordomo Eugênio (Sérgio Mamberti)
era uma bee hilária, viciada em cinema.
"Top Model" (89, 19h) Miguel Magno foi Marvin, gay afetado que acabou se casando com uma amiga.
Anos 90
"Mico Preto" (90, 19h) José Maria (Marcelo Picchi) e José Luís (Miguel Falabella) formavam um escrachado casal.
"Boca
do Lixo" (90, 22h) Henrique (Reginaldo Faria) e Tomás (Alexandre Frota)
tinham um caso. Henrique terminou matando Tomás e a amante dele - e
esposa de Henrique -, Cláudia (Sílvia Pfeiffer).
"Barriga de Aluguel" (90, 18h) Eri Johnson era Lulu, bicha do bordão "Fui!"
"Pedra Sobre Pedra" (92, 20h) Adamastor (Pedro Paulo Rangel) era apaixonado por Carlão (Paulo Betti).
"Deus
nos Acuda" (92, 19h) Gino (Jandir Ferrari) voltava para casa travestido
como Gina, e se envolvia com Wagner (Paulo César Grande).
"Sex Appeal" (93, 22h) Otávio Augusto era Caio, fotógrafo de moda assassinado por um psicopata.
"A
Próxima Vítima" (95, 20h) Marcando época, o casal universitário
Sandrinho (André Gonçalves) e Jeff (Lui Mendes) terminou inaugurando
apartamento com a benção das famílias.
"Engraçadinha" (95, 22h) A
infeliz Letícia (Maria Luíza Mendonça) vivia rastejando pelo amor de sua
prima Engraçadinha (Alessandra Negrini e Cláudia Raia).
"Explode Coração" (95, 20h) Floriano Peixoto era Sarita. Mas ela era travesti, transex ou drag? Ninguém nunca entendeu.
"A Indomada" (97, 20h) Zenilda (Renata Sorrah) gostava de "fazer a contabilidade" ao lado de Vieira (Catarina Abdalla).
"Zazá" (97, 19h) Marcos Breda viveu RoRo Pedalada, que era drag em uma boate.
"Anjo Mau" (97, 18h) Luis Salém foi o gay Beni, que se envolveu com a socialite Elisinha (Ariclê Perez).
"Por Amor" (98, 20h) Odilon Wagner era Rafael, homem maduro que largava a esposa para ficar com Alex (Beto Nasci).
"Torre
de Babel" (98, 20h) O famoso caso das lésbicas Leila (Sílvia Pfeiffer) e
Rafaela (Christiane Torloni), mortas na explosão do shopping cenário da
novela.
"Hilda Furacão" (98, 22h) Matheus Nachtergaele estreava na TV vivendo o travesti Cintura Fina.
"Suave
Veneno" (99, 20h) O guru Uálber (Diogo Vilela) e seu assistente
"feminina" Edilberto (Luís Carlos Tourinho) divertiram o público e
irritaram os militantes LGBT.
Anos 2000
"As Filhas da Mãe" (01, 19h) Ramona (Cláudia Raia) nasceu Ramon, mas fez a cirurgia e virou mulher.
"Desejos de Mulher" (02, 19h) Ariel (José Wilker) e Tadeu (Otávio Muller) formavam um casal caricato.
"Mulheres
Apaixonadas" (03, 20h) As lésbicas teens Clara (Alinne Moraes) e
Rafaela (Paula Picarelli) conseguiram terminar juntas, se beijando no
palco enquanto encarnavam, respectivamente, Julieta e Romeu.
"Celebridade"
(03, 20h) Laura (Claudia Abreu), a "Cachorra", era bi. Além de transar
adoidado com homens, também curtia mulheres - e teve um caso com Dora
(Renata Sorrah).
"Senhora do Destino" (04, 20h) Mais um casal lésbico com final feliz: Eleonora (Mylla Christie) e Jennifer (Bárbara Borges).
"América"
(05, 20h) A bicha country Júnior (Bruno Gagliasso) acabou assumindo seu
amor por Zeca (Erom Cordeiro), no quase-beijo-gay mais famoso do
Brasil.
"A Lua me Disse" (05, 19h) Samovar (Cássio Scapin) e Valdo
(Hugo Gross) terminaram felizes, embarcando para Paris. E havia a
incrível Dona Roma (Miguel Magno), uma travesti dona da pensão.
"Belíssima"
(05, 20h) Gigi (Pedro Paulo Rangel) terminou apresentando seu namorado,
um rapaz apetitoso. E Rebeca (Carolina Ferraz) ficou com Karen (Mônica
Torres).
"Páginas da Vida" (06, 20h) Rubinho (Fernando Eiras) e Marcelo (Thiago Picchi) formavam um casal sem conflito.
"Paraíso
Tropical" (07, 20h) O mesmo ocorria com Rodrigo (Carlos Casagrande) e
Tiago (Sérgio Abreu). O casal mauricinho foi considerado "frio".
"Duas
Caras" (07, 20h) Bernardinho (Thiago Mendonça) se envolveu com Heraldo
(Alexandre Slaviero), mas terminou casando com Carlão (Lugui Palhares).
"Beleza Pura" (08, 19h) Betão (Rodrigo Lopez) era um maquiador afetado.
"Queridos Amigos" (08, 22h) Beni (Guilherme Weber) era o gay da turma de amigos que se reencontravam depois de anos.
"Ciranda
de Pedra" (08, 18h) No remake, a tenista Letícia (Paola Oliveira) não
teve sua sexualidade desenvolvida, ao contrário do livro e até da novela
original.
"A Favorita" (08, 20h) O gay Orlandinho (Iran
Malfitano) mudou de time e se casou com Maria (Deborah Secco). Por outro
lado, Catarina (Lília Cabral) largou o marido e foi morar com Stela
(Paula Burlamaqui).
"Caras e Bocas" (09, 19h) A pocpoc Cássio
(Marco Pigossi) popularizou expressões como "Tô rosa chiclete!" Seu
amigo Sid (Kleber Toledo) era outra pintosa.
"Cinquentinha" (09, 22h) Pierre Baitelli encarnou Carlo, um "gay do mal".
2010/2011
"Tititi"
(19h) Osmar (Gustavo Leão) morre, deixando o namorado Julinho (André
Arteche). Após vencer preconceitos, Julinho conquista a família de Osmar
e encontra um novo amor: Thales (Armando Babaioff).
"Insensato
Coração" (21h) Um exército gay: Roni (Leonardo Miggiorin), Eduardo
(Rodrigo Andrade), Hugo (Marcos Damigo), Xicão (Wendel Bendelack),
Nelson (Edson Fieschi), Gilvan (Miguel Roncato) e Araci (Cristiana
Oliveira). Araci e Gilvan morreram, Hugo e Eduardo podem morrer...
alguém sobreviverá?
"Lara com Z" (22h) Pierre Baitelli retomou o personagem Carlo, de "Cinquentinha".
"O
Astro" (23h) No remake, Henri Castelli assume o papel de Felipe, e João
Baldasserini encarna seu inseparável amigo, o afetadinho Henri.
"Fina Estampa" (21h) Marcelo Serrado como Crodoaldo Valério, gay bastante feminino.
"Aquele Beijo" (19) Luís Salem fez a travesti boa gente Ana Girafa, que ganhou destaque na reta final da trama de Falabella.
"Aquele Beijo" (19) Luís Salem fez a travesti boa gente Ana Girafa, que ganhou destaque na reta final da trama de Falabella.
Off Globo
Enquanto
tudo isso aconteceu na Globo, as outras emissoras foram mais tímidas no
assunto. Assim, os gays que marcaram pontos são poucos:
Dinorá em
"Olho por Olho" (Manchete, 88, 21h) - Travesti interpretado por uma
travesti verdadeira: Cláudia Celeste. Na mesma novela, Máximo (Mário
Gomes) era um michê que saía com homens e mulheres.
"Mãe de Santo"
(Manchete, 90, 22h) - Nesta obscura série, Raí Alves e Daniel Barcellos
deram o que pode ser considerado o primeiro beijo gay da
teledramaturgia nacional. A cena está no YouTube.
"Guerra Sem Fim" (Manchete, 93, 21h) - Ao final, Viúva Negra (Paulão Barbosa) se uniu ao traficante Monarca (Hélcio Magalhães).
Zé Maria (Guilherme Piva) era uma tresloucada bicha imperial em "Xica da Silva" (Manchete, 96, 21h)
Danilo (Cláudio Heinrich), de "Os Mutantes / Caminhos do Coração" (Record, 2007-2009, 21h), era um gay herdeiro de família rica.
Marcela
(Luciana Vendramini) e Marina (Gisele Tigre) em "Amor & Revolução"
(SBT, 2011, 22h): as pioneiras, que deram o tal "primeiro beijo
lésbico"; na mesma novela, o casal Chico (Carlos Thiré) e Jeová (Lui
Mendes) foi proibido de trocar beijos.
*Matéria originalmente publicada na edição nº48 da revista A Capa - Agosto de 2011
*Matéria originalmente publicada na edição nº48 da revista A Capa - Agosto de 2011
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