Texto realizado para a revista Escritos sobre feminismo durante o ano 1980, em Porto Alegre, pelo grupo Costela de Adão. Também foi publicado na época pelo jornal Lampião.
Texto realizado para a revista Escritos sobre feminismo durante o ano 1980, em Porto Alegre, pelo grupo Costela de Adão. Também foi publicado na época pelo jornal Lampião.
Uma questão que tem recebido as mais diversas interpretações- desde perversão até o sinônimo do mais alto grau de liberação- refere-se às relações afetivo-sexuais entre pessoas do mesmo sexo.[1] Embora muito já tenha sido teorizado em torno desse tema, na prática constitui-se ainda numa enorme espinha atravessada na garganta da famosa “moral ocidental-cristã”. A existência de tal preconceito seria mais do que suficiente para justificar a necessidade do debate em torno do assunto. No entanto, ainda mais grave é a maneira como grande parte dos “homossexuais” interpreta e vivencia esse tipo de relação. Por isso, nos parece extremamente pertinente, nos dias que correm, não apenas levantar questões relativas à repressão social institucionalizada (aquela claramente expressa pelo pensamento conservador) mas, também, analisar a maneira como tal repressão foi interiorizada e assumida por aqueles que estabelecem relações homossexuais.
Feita essa observação, nos parece que o primeiro passo a ser dado, para a compreensão rela do significado da homossexualidade, é que tal fato seja visto a partir de uma problemática mais ampla, cuja essência é a sexualidade humana, em sua totalidade. Da mesma maneira, a explicação das razões de sua repressão pela sociedade, passa necessariamente pelas razões pelas quais a sociedade rejeita e enoja-se com qualquer manifestação sexual que fuja da normalidade.
Na verdade, a interpretação da homossexualidade como uma questão à parte e a conseqüente divisão da sociedade em duas categorias sexuais distintas e nãomiscíveis – os “homo” e o “hetero” – encerra uma visão altamente preconceituosa. O pressuposto, por trás de tal afirmação, é o de que os indivíduos dividem-se em normais e pervertidos. Normais seriam aqueles cuja sexualidade é coerente com a conformação de seu órgãos genitais, de onde se originariam os impulsos sexuais, sendo sua meta natural outro aparelho genital anatomicamente complementar. Em outras palavras, o esquema é o seguinte: normal seria a busca de uma complementaridade sexual em que a genitalidade feminina funcionará como receptáculo de uma genitalidade masculina destinada à penetração, união essa que, para ser ainda mais natural, deve visar à procriação. Por outro lado, os perversos ou “anti-naturais”, seriam aqueles cujas atividades sexuais ou se estendem, num sentido anatômico, além das regiões do corpo que se destinam à união sexual, ou demoram-se nas relações preliminares com o objeto sexual (a outra pessoa), que devem normalmente ser atravessadas rapidamente no caminho em direção ao objetivo sexual final (a penetração).
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